almas nuas.

Tuesday, June 4, 2013

Cap. II - Amélie


    Acordar cedo nunca fez parte da minha rotina, mas agora…agora que estou prestes a reencontrar uma amiga de anos, a Johanna, não consigo dormir. Os meus olhos estão presos no teto, a absorver o escuro, e eu recordo o nosso acordo em viajar pela Europa. Prometeu-me que iríamos partir juntas à aventura na última visita que ela me fez, aqui em Paris, e agora, três meses depois, cá estamos nós prestes a cumprir a promessa. Ainda hoje não sei como lhe agradecer o facto de se ter disponibilizado a deixar o noivo em Londres durante tempo indefinido, para me ajudar a superar um coração partido. Ela sempre soube o que fazer, o que dizer. E eu sempre precisei dela, mesmo que à distância, para seguir em frente. 
    Cansada de sentir o meu corpo preso pelos lençóis, levanto-me e dirijo-me à casa de banho que fica do outro lado do estreito corredor. Acendo a luz ao entrar e uma cara redonda cumprimenta-me no espelho. Sorrio ao de leve e aproximo-me do lavatório, com o intuito de a lavar. Agora que estou mais acordada, aproximo a face do espelho e analiso o meu cabelo ao pormenor. Apesar de ter origens nórdicas nunca gostei de ter um tom claro no meu cabelo, o que me levou a pintá-lo de um tom escuro, tentando passar despercebida na cultura francesa, com a qual convivo desde que nasci.
    Afasto a cara do espelho, dispo o pijama e entro para a banheira. Enquanto sinto a água quente percorrer a minha pele trauteio uma música que tinha ouvido no dia anterior quando fora às compras. Para mim começar a manhã de forma animada era receita suficiente para animar o resto do dia. Ainda sem sair da banheira puxei a toalha e enrolei-me, olhando para o relógio pendurado estrategicamente na parede do corredor. Já não faltava muito para ter que sair de casa. Sobressaltei-me, saltei para fora da banheira, vesti o vestido que tinha posto de parte na noite anterior e ainda apressada penteei-me pondo uma bandolete preta.
   Peguei na mala já completamente preparada, tirei uma maçã da fruteira e certifiquei-me que tudo ficava desligado antes de calçar as sabrinas, fechar a porta atrás de mim e apressar-me a sair do prédio. Desloquei-me até ao metro mais próximo da minha casa – École Militaire – e enquanto este andava eu esperava ansiosamente por ver surgir no visor a paragem que me levaria até junto da Johanna – Bercy, junto à estação de comboios de Gare de Lyon. Ao chegar à estação vi que o comboio Eurostar já lá estava parado e eu tive que me controlar para não correr até alcança-lo. Procurei uns cabelos flamejantes e não demorei muito a encontra-los. Parei, respirei fundo, sorri e parti em direção aquela que é mais do que uma amiga: é uma irmã. Três meses depois, ali estava a Johanna, pronta a iniciar a aventura de uma vida, lado a lado comigo.

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