almas nuas.

o espelho de Amélie.


Gostava de saber voar e ter a capacidade de perdoar. Estranha forma de apresentação não é? Mas esta é a pessoa que eu sou. Com 22 anos, tenho medo de perder tudo, mas luto como se não existisse fim. Filha de pais suecos, mas nascida em França, tento pertencer a uma cultura que os meus pais nunca deixaram que existisse em casa. Talvez por isso mesmo eles tenham voltado ao seu país, por não se adaptarem a uma país tão diferente daquele onde eles sempre viveram. Mas eu fiquei por cá, aluguei uma casa, arranjei um emprego, vivia com o homem que eu julgava ser o homem da minha vida e vivia na romântica atmosfera de Paris. Até que há três meses atrás tudo se desmoronou. Ele foi-se embora e eu fiquei sem forças para nada. Sim, eu sei, fui parva. Deixei o coração falar mais alto e ganhar uma guerra que deveria ter tido mais batalhas. Mas eu sou assim, inconsequente e autêntica. Perdi o emprego que tinha e tive que deixar a casa que com tanta paixão tinha escolhido. Fui para casa de tios e desde aí nunca mais fui a mesma. Eles olham para mim com compaixão, erguendo-me diariamente, mas nada me fez melhor do que a visita da Johanna. Conhecemo-nos há tantos anos que já lhes perdi a conta. Ela veio de férias para França com os pais e conhecemo-nos na biblioteca que eu frequentava de forma constante. Lado a lado, olhávamos para a mesma estante e quando as nossas mãos se esticaram para o mesmo livro olhámos um para a outra e sorrimos. Parece uma situação de filme, não é? Foi sempre assim a nossa amizade: cenas improváveis e sentimentos inexplicáveis. Nunca mais nos perdemos uma da outra e quando ela sugeriu uma viagem pela Europa, para que eu esquecesse os problemas, os meus olhos brilharam de novo. Ela sempre soube como me ajudar e é por isso que ela é para mim mais do que uma amiga: é família. Não sou mais nem menos do que aquilo que o espelho mostra. Sou eu mesma, despida de sonhos e coberta pela realidade. A Amélie que se olha ao espelho, vendo uma cara redonda e uns olhos acizentados, é aquela que agora vos escreve e será essa que sempre vos escreverá.

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