Durante
sete dias partimos à descoberta da bela cidade de Berlim, alugámos bicicletas
em alternativa às despesas que teríamos se usássemos os transportes públicos, e
andámos a pé, sempre que possível. Dividimos os locais a visitar pelos gostos
de cada uma, sendo que visitámos três monumentos em concordância imediata: a
fonte da amizade, o monumento de homenagem ao Holocausto e um pedaço do muro de
Berlim. Visitámos, também o Portão de Brandeburgo, a igreja Gedächtniskirche (“Tu e as
igrejas…” dissera-me Amélie na altura), o Reichstag, que é o edifício do
parlamento alemão, a catedral de Berlim, entre
vários outros pontos importantes que são um ícone na Alemanha.
-Então, vamos sair? –
Disse na nossa última noite em Berlim.
-Não me apetece muito.
-Vá lá… Não podes dizer que estivemos em Berlim sem
experimentar a noite… - Acabei por convencê-la, como sempre e uma hora depois
estávamos prontas a sair.
Eu optara por um
vestido de verão, azul, e uns saltos altos pretos. Prendera o meu cabelo num rabo-de-cavalo
e colocara uns brincos longos e um colar com um pendente em forma de flor. Em
oposição, Amélie escolhera um conjunto mais confortável: calças de ganga, ténis
pretos Converse e uma camisola
branca. O cabelo escuro dela estava solto e usava apenas uma bandolete. Ao
contrário de mim não usava qualquer tipo de maquilhagem.
-Vá, só um pouco de batom… - Insisti.
-Não.
-Amélie, não é assim que o vais esquecer. Sabes que tenho
uma teoria em relação a isso… “A melhor maneira de esquecer um velho amor é
encontrar um novo amor!” – Citei esticando o indicador na direção dela. Amélie
acabou por se rir e consentir.
-És louca.
Enchi o peito perante a
sua afirmação e, com o maior dos sorrisos concordei com ela, acrescentando
ainda que era por essa razão que ela gostava tanto de mim. Amélie sempre foi
uma rapariga calma, introvertida e tímida. Eu também o sou, mas costumo ser sempre
eu a puxá-la para as maiores loucuras, como uma noite de inverno, quando
tínhamos dezassete anos.
Estava a passar férias em Paris e os meus pais não me deixaram sair de casa por
ter baixado as notas numa disciplina, mas eu não podia estar em Paris e não
estar com a minha melhor amiga, a minha irmã, então, uma noite, saltei pela
janela e, ao frio e sob neve cerrada, peguei na bicicleta e pedalei até casa
dela. Acordei-a atirando-lhe pedrinhas para a janela do quarto e ela chamou-me
louca por ter pedalado até ali com aquele frio. Fora a primeira vez que ela me
chamara de louca. Ficámos a noite toda na conversa, a beber chocolate quente
com Marshmallows, apesar de ela me dizer, de meia em meia hora, que deveria ir
para casa antes que os meus pais reparassem que eu não estava lá.
Saí de casa dela cedo, sabendo que deveria estar na cama antes dos meus pais me
acordarem e consegui, trepei pela janela e enfiei-me na cama. Não adormeci,
estava a relembrar as conversas que tínhamos tido nessa noite quando o meu pai
me acordou, uma hora depois de me ter deitado. Ao pequeno-almoço, para minha
alegria, informaram-me que podia sair, porque me tinha portado bem durante o
fim-de-semana, e estiquei a corda perguntando se podia ir passar a noite a casa
da Amélie. Eles aceitaram e corri a contar-lhe a notícia, mas o que eles não
sabiam é que nessa noite ia haver um concerto da nossa banda preferida.
Durante a noite anterior desafiei Amélie para irmos ao concerto, mas ela
recusara-se, pois os pais não iam deixar, então convenci-a a dizer aos pais que
ia ficar em minha casa, enquanto eu diria aos meus que ia ficar em casa dela e
íamos escapulir-nos para ir ao concerto. Ela não queria aceitar, dizia que
tinha tudo para correr mal.
-E se os meus pais ligam aos teus a perguntar por mim? - Perguntou-me ela com
medo.
-Não ligam! Tens quase 18 anos, tens idade para tomar conta de ti própria. Se
ligassem a alguém, ligariam a ti!
-E se os TEUS pais ligam aos meus?
-Não ligam. Eu disse que os teus pais iam visitar uma tia qualquer que morava
nos arredores e que íamos estar sozinhas. Eles confiam em ti, por seres
ajuizada e isso, por isso não ligam.
À hora combinada, fui ter a casa de Amélie, equipada com uma T-shirt da banda
e, entre risinhos de medo e ansiedade, fomos de bicicleta até ao recinto do
concerto. Correu tudo bem, nenhum pai ligou a ninguém, ambos apenas nos
mandaram mensagens a perguntar se estava tudo bem e às duas da manhã já estávamos
na cama, a rir baixinho para não acordar os pais de Amélie, que não sabiam que
estávamos ali.
-Então, valeu a pena? - Perguntei-lhe.
-Sim... Obrigada - respondeu-me com voz de sono.
-Vês... - Disse adormecendo, com um sorriso na cara.
Encontrámos um bar
perto da pousada. Ficava situado num edifício antigo de pedra e tinha portas de
madeira. Por dentro estava decorado com garrafas de variadas bebidas, algumas
com muito pó, e barris nas paredes de madeira escura e as mesas e os bancos
condiziam com a tonalidade da parede. Não estava muito cheio e a música estava
no volume certo para se ter uma conversa ou para dançar, que era o que estava a
fazer um grupo de jovens a um canto, ao pé de uma antiga aparelhagem de música.
Percorremos o caminho até ao balcão, que se situava na porta oposta à entrada,
e sentámo-nos nos bancos de madeira. O balcão era mais claro que as paredes mas
por trás dele também estavam várias garrafas, estas já sem pó, e mais barris.
Por trás do balcão estava um jovem, não muito mais velho
que nós, loiro e com olhos azuis. Usava um avental preto por cima de uma
t-shirt de manga cava que deixava perceber os músculos bem definidos dos
braços.
-
Hallo, meine Damen. Was kann ich für dich tun? -
Perguntou-nos ele.
-Desculpe, não falamos Alemão… - Respondeu Amélie,
timidamente. Ele riu-se e respondeu com um sorriso.
-Pois claro que não. Perguntei o que vão desejar as
senhoras.
-Eu quero uma cola. – Pediu Amélie. Ele olhou para mim,
em seguida.
-Não. Dois whiskeys, por favor, duplos, com gelo.
Amélie lançou-me um olhar reprovador mas ele serviu-nos
prontamente.
O
rapaz do bar pôs conversa connosco, perguntou-nos de onde éramos (ficou muito
feliz por saber que eu era de Londres) e o que fazíamos em Berlim. Tal como
suspeitara, Amélie libertou-se e começou a tagarelar alegremente com ele,
dizendo que estávamos a fazer uma viagem juntas para tirarmos umas férias das
nossas vidas. Klaus (era esse o seu nome) tinha 22 anos e estava a tirar
Literatura Inglesa, daí ter ficado tão feliz quando soube de onde era. Mais
tarde uma rapariga juntou-se a nós, apresentando-se como sendo a irmã mais
velha de Klaus, Alexandra. Ficámos a conversar durante mais algumas horas.
-Prometo
que vos irei visitar a Londres e a Paris. – Disse Klaus, sorrindo à despedida.
-Ficaremos
à espera então. – Disse eu descontraidamente. Amélie corou ligeiramente com a
ideia de ter aquele Deus Grego em Paris consigo.
Saímos
do bar e caminhámos de volta à pousada.
-Então,
valeu ou não valeu a pena sair? – Perguntei a Amélie, entrelaçando os nossos
braços. Ela acenou afirmativamente. – Aquele Klaus… bem giro não?
Amélie
corou antes de murmurar:
-Acho
que sim…
-Achas?
Ele não tirava os olhos de ti. – Disse, rindo-me. Amélie corou até à raiz do
cabelo. – Vá, não precisas de ficar da cor do meu cabelo, Amélie.
Quando
chegámos à pousada arrumámos tudo o que faltava e enfiámo-nos na cama, no dia
seguinte iríamos partir para Praga.
-Jo?
- Chamou-me Amélie no escuro.
-Sim?
-Obrigada…
por me teres tirado de casa e… por tudo, basicamente.
Sorri
no escuro.
-De
nada. Sabes que tu estando feliz, eu estou feliz. Agora dorme, temos que
acordar cedo amanhã.
Amélie
sorriu também e adormecemos.
adoro!!
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