"
Prochain arrêt: Gare de Lyon" soou uma bela voz feminina na carruagem.
Levantei-me ao mesmo tempo que muitos outros passageiros e coloquei a mochila
às costas. Quando o comboio parou ainda não tinha chegado à porta da carruagem
pois havia muitas pessoas à minha frente.
Ao
sair do comboio olhei à minha volta, admirando a estação que já se tornara tão
familiar e dei uns passos para sair da confusão de pessoas que saiam do
comboio. Foi então que a vi a andar na minha direção, com o seu ar francês que
apenas eu sei que não é real. Ela viu-me e correu para mim, abraçando-me o melhor
que podia devido à mochila.
"Como
estás? Fizeste boa viagem? Estou tão feliz de te ver aqui!" Disse-me ela,
abraçando-me novamente.
"Calma,
calma!!! Deixa-me respirar!" Pedi-lhe rindo-me.
Ela
afastou-se de mim e olhou-me de cima abaixo, suspirando e abanando a cabeça
negativamente. "És sempre a mesma coisa!"
Ri-me
com a afirmação dela, sei que estava a falar do facto de estar vestida de
preto. "Olha quem fala!" Ri-me.
"Anda,
vamos. Temos um avião para apanhar."
Uns
minutos depois estávamos sentadas no autocarro, lado a lado, tagarelando sobre
o nosso dia-a-dia e os nossos projetos. Amélie perguntou-me se tinha a certeza que
era isto que eu pretendia, tirar um tempo da escola, e eu assegurei-lhe, pela
enésima vez, que sim, precisava disto, que preciso de esclarecer as minhas
dúvidas e saber se é isto que realmente quero. "E claro, também porque não
aguento ver-te assim. Prefiro mil vezes viajar contigo do que ficar fechada num
auditório com outras centenas de pessoas a ouvir um homem de meia-idade, careca
e com um fato de Tweed verde a dar uma lição sobre direito romano ou sobre o
código penal." A minha afirmação proporcionou uma gargalhada bastante alta
à Amélia, à qual não resisti não acompanhar. Quando começámos a recuperar o
fôlego reparei que toda a gente no autocarro
estava a olhar para nós e corei.
Tivemos
que mudar para outro autocarro de modo a irmos para o aeroporto de Orly, onde
íamos apanhar o avião para Berlim. Ainda tínhamos algum tempo e eu rezava, mentalmente,
para que chegássemos a horas do avião e para que não houvesse greve.
Chegámos
bastante adiantadas, o que nos deu tempo para fazer o Check-In com calma. Como
o nosso voo era às duas da tarde, resolvemos comer qualquer coisa num
restaurante do aeroporto, até porque não tínhamos a certeza se nos seria
oferecida alguma refeição a bordo, visto que o voo ia ser de apenas uma hora.
**
"Por
onde é agora?" Perguntou-me Amélie, quando saímos do terminal. Peguei num
mapa do aeroporto que tinha tirado da Internet e tentei perceber onde
estávamos. "Sempre preparada." Disse-me ela, rindo. Sim, é verdade,
quando faço uma viagem vou até à exaustão e cuido de todos os pormenores, mas é
isso que ajuda a que tudo corra sempre bem.
Sorri-lhe
e descobri-nos. "É por ali." Disse, apontando. Começámos a caminhada
para a porta, em direção a um túnel que nos iria levar à estação de comboios em
frente ao aeroporto. Amélie tinha insistido que queria ficar numa pousada na
cidade, em vez de um hotel, porque era mais barato, e encontrei um hotel
relativamente barato, o que a deixou muito satisfeita.
"Onde
estamos?" Perguntou-me Amélie, quando saímos do metro. Peguei noutro mapa
e vi onde estávamos. "Estamos em..." Hesitei.
"Não
sabes onde estamos?" Perguntou-me Amélie alarmada.
"Claro
que sei, só não sei pronunciar o nome da rua! Olha aqui, estamos aqui."
Disse-lhe, mostrando a nossa posição no mapa. "Temos que vir por
aqui" tracei uma linha, "e depois viramos para aqui" tracei
outra linha, "et voilá." finalizei com um pequeno toque no sítio onde
seria a pousada. Amélie olhou para mim confusa mas encolheu os ombros e
seguiu-me.
Percorremos
as ruas da cidade em busca da pousada, com a ajuda do mapa, e encontrámos
finalmente o hotel. Ficava situado numa rua calma, a entrada estava num pátio
de tijolos vermelhos, o qual era antecedido por um túnel. A receção da pousada
era moderna, tinha uma escada em caracol de metal no meio da entrada, ao lado
haviam umas quantas mesas com computadores e ao fundo, na parede oposta à entrada,
estava situado o balcão onde estavam duas senhoras vestidas com um blazer azul
marinho e uma camisa branca com um lenço, também azul marinho, ao pescoço.
Dirigi-me
ao balcão, à senhora mais nova, de cabelo loiro apanhado num rabo de cavalo:
"Boa
tarde, temos uma reserva de um quarto duplo em nome de Johanna Evans...
J-O-H-A-N-N-A." Soletrei, para facilitar o trabalho.
"Ah,
sim. Boa tarde Ms. Evans. Sim, confirmamos a sua reserva, quarto duplo.
Precisamos do seu cartão de crédito e de mais alguns dados, por favor."
Disse-me ela em Inglês mas com sotaque alemão.
Forneci-lhe
os dados que necessitava e ela deu-nos a chave para o quarto, tinha o número
627.
"O
pequeno-almoço está incluído na estadia e é servido das 7 às 11 horas da manhã,
a cantina, o bar e a sala de convívio, bem como a sala de fumadores, situam-se
no primeiro piso. Tenham uma boa estadia e se tiverem algum problema não hesitem
em chamar."
Agradecemos
e dirigimo-nos ao elevador. Carregámos no botão com o número seis e suspirei.
Ao meu lado, Amélie sorriu, estava claramente divertida com o meu
perfeccionismo.
O
nosso quarto ficava ao fundo do corredor. Era branco e tinha duas camas de
metal, uma encostada à janela, e uma cadeira vermelha no meio das camas; aos
pés da cama ao lado da janela havia um roupeiro cinzento e vermelho que mais
parecia um frigorífico e entre a porta de entrada e a porta da casa de banho
estava outro. A casa-de-banho era pequena e cheirava a detergente de morango,
não tinha banheira mas tinha um duche, o que era mais rápido.
"Parece
fixe." Disse, olhando em volta. "Dibs na cama da janela!" Ri-me,
pousando a mochila na cama.
"Hey!
Sou mais velha, primeiro escolho eu!" Disse Amélie, com um falso tom de
indignação.
"Dibs, é Dibs! Mas vá,
escolhe."
"Quero
esta." Disse, apontando para a cama oposta.
Rimo-nos
em conjunto, sentando em cima da cama e suspirando de cansaço.
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